ENSAIO MARÇO 2019 – lute como uma gorda!









Decidimos fazer nosso primeiro ensaio “lute como uma gorda” para ter fotos para as redes, mídias, essas coisas e foi um encontrão que explodiu de amor, genteeee ela e eu nos amamos ali no fazer, pra gente estava sendo muito mais do que pousar e encontrar lugares sabe? Foi uma conexão que eu nem sei explicar, e ali naquele fazer artístico ativista que a gente se tornou amiga irmã e nunca mais nos separamos, e já não éramos mais parceiras só de projeto, éramos de doideiras, confidências, de vida mesmo…
De contar nossas dores e lamber nossas feridas juntas.
Ela foi num monte de eventos que participei pra registrar nossas ações, e ela assistia, se envolvia e depois conversávamos sobre o tema, o quanto a discussão sobre gordofobia atravessava sua vida e história, e esse atravessamento sincero e de troca fez com que a gente se unisse ainda mais, a Ju acreditava que era gorda desde muito pequenininha porque todo mundo falava que ela era gorda, a mãe sempre incentivou que ela fizesse dietas, os namorados, amigas, enfim – essa parada que o sistema heteronormativobrancomagro faz com as mulheres, se você não é esquelética você é gorda, sem ser – ela estava vivendo num relacionamento que o parceiro também achava isso e ela aos poucos foi percebendo pelas palestras, rodas, encontros que ela não era gorda, falamos disso e além dela se libertar dessa condição que não era dela, ela entendeu a importância e desespero que ela tinha em engordar – imposto pelos outros – como com todas nós.
Entender a gordofobia profundamente faz isso com a gente, sensibiliza, entende-se que o buraco é muito mais embaixo, ela se tornou uma das minhas aliadas nessa luta com sua arte, mas também com sua amizade, apoio e presença na minha vida, eu e a Jú nos transformamos profundamente desde então, descemos em nossas profundezas com a mesma força que emergimos dela, muita coisa mudou e hoje ela se tornou e vem se tornando essa fotógrafa incrível de mulheres pelo Brasil, e eu? Eu sou essa gorda imensa, poderosa que através da educação, da arte, da escrita, do ativismo e dos encontros proponho um novo olhar sobre os corpos gordos femininos.
Essas fotos me levaram e chegaram em muitos lugares, uso até hoje porque elas estão carregadas de signos de toda essa união, história, encontros, é tanta coisa nelas. A Jú viu as Gordas Xômanas nascerem, acompanhou meu doutorado, foi na minha defesa e se emocionou comigo porque fiz questão de colocar os ensaios para a banca ver o poder que é tudo isso aqui, e a reação foi surpreendente porque elas se emocionaram mas também apontaram como esses ensaios são importantes pra construir uma reparação dessa visão distorcida que temos de corpas gordas maiores, de colocar essas corpas imensas em lugares de poder: a fotografia, a natureza, a Chapada…
De subverter a “lógica” de que esses corpos não servem para nada, são feios, preguiçosos, doentes, incapazes, etc, etc, etc….etc, etc, etc….
Esse Ensaio abriu meu olhar e tem um papel fundamental no meu reconectar com meu corpo imenso como político e revolucionário, é claro que não aconteceu isso de um dia para outro, vocês verão aqui a evolução da minha presença nos ensaios, é nítida, e também das fotografias da Ju, de como a gente cresceu nesse espaço de criação, performance, ativismo e representatividade.
Existem algumas mulheres que me perguntam como vencer o medo, a vergonha e até o ódio ao próprio corpo para se fotografar, ou mesmo participar de um ensaio, e não tem receita pronta eu acho, o mais importante é você confiar em quem está se fotografando, e se não encontrou ainda a Jú da sua vida, comece por você mesma, no celular com roupa, depois vá tirando, se assim o desejar e quando você perceber, o seu olhar sobre seu corpo será diferente do que era.
Porém, pelo que tenho experenciado, não adianta fazer esse exercício e só seguir, andar, ter amizades com mulheres padrão, que não nos representam e pior, nos faz sentir monstruosas, a ideia é consuma outras mulheres que tem corpos parecidos ao seu, realidades parecidas.
Esse Ensaio, que foi o meu primeiro solo, se vocês notarem estou insegura, mesmo com roupa, ninguém nunca tinha tirado fotos de mim, não sabia o que era pousar para uma fotógrafa profissional, o que ela ia fazer da minha imagem que sempre foi menosprezada, ridicularizada e odiada.
Principalmente as primeiras fotografias foram mais dificeis, mas aos poucos e com a ajuda da Jú fui me soltando, tendo confiança, e encontrando meu corpo ali no ato de pousar, ser fotografada… Penso que fazer um Ensaio é celebrar meu corpo no mundo, ainda mais como gorda maior, onde meu corpo sempre foi negado estar em evidência, celebrado, enaltecido….
É uma construção de como mexer seu corpo, seus braços, sua cabeça, suas pernas, quais objetos vão compor a cena e o cenário que você se sente bem, representada, feliz …. Claro, que não é tudo lindo não, a gente passa perrengue também, bixo que pica, sol que queima, as vezes você precisa ficar na mesma posição até ela achar o melhor clic…. enfimmmmm é uma construção…
Mas tem valido a pena! Hoje nesse fazer , me sinto uma Deusa, celebro, me envolvo, curto e me jogo…. Mas não foi sempre assim e acredito ter muitos fatores para que tudo isso aconteça. É muito importante você confiar na pessoa que está fazendo as fotos, perder a vergonha dela e para isso acho que róla como é que ela lida com seu corpo, o carinho, respeito, a Jú vibra nas fotos, você sente que ela tem tezão naquilo que está fazendo e me fotografar é importante pra ela também.
Uma coisa interessante que aconteceu foi que ela me disse pra levar, se eu quizesse objetos que me representavam, eu lógicooo levei livros… e na hora de escolher, levei alguns que estava usando na tese.
Pode parecer algo bobo, mas esses livros me deixaram mais segura e confiante. Porque era como se eu estivesse em casa, e neles também traziam uma das propostas do meu ativismo, sobre construir intelectualmente uma nova epistemologia sobre os corpos gordos.
Modelo e fotógrafa é uma parceiria muito lokaa, rola uma sintonia, confiança e admiração também. Existe um encontro alí, uma celebração de agradecimento por a gente estar vivendo com tanta potência aquele ensaio, é ARTE com meu corpo! E vivenciar isso não tem preço.
Acredito que valha a pena fazer mais de um Ensaio, se auto fotografar também é interessante para ir se descobrindo e vendo como você pode ser poderosa e ir deconstruindo toda essa insegurança e visão distorcida sobre nosso corpo.
Lembre-se seu corpo é um corpo REVOLUCIONÁRIO!
Poder colocar ele no mundo de maneira subversiva, que rompa com todos os padrões e que você mostre através da arte, da representatividade que nosso corpo pode, merece e existe é político, revolucionário e pedagógico.
Essa fotos estão maravilhosassssss♥️♥️
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obrigada 😊
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