Levando os Estudos do Corpo Gordo para além dos muros da Universidade.
Meu Corpo Gordo na Fotografia
ENSAIO MANIFESTO
MORTE E VIDA MARIAS
Novembro, 2022.
“Encerrando ciclos, abusos, dores e amores… Enfrentando separações, transformações, violações… Foi preciso morrer para viver!”
Em setembro de 2022 recebi informações importantes numa discussão dentro de um relacionamento de 14 anos, quase 15 de que eu não estava cuidando, nem preocupada em cuidar da casa e dele…
EU OUVI ISSO DO HOMEM QUE EU UM DIA TINHA ACREDITADO QUE ERA O GRANDE AMOR DA MINHA VIDA! UM HOMEM QUE SE MOSTROU DESCONSTRUIDO A PONTO DE EU QUERER ESTAR AO LADO DELE TANTOS ANOS…
E, foi numa conversa sobre mudar de trabalho, da forma de pagar as contas, porque do jeito que estava me estava fazendo muito mal, eu estava adoecendo… Que ele me disse – Não estou feliz! E mesmo sabendo que felicidade é um conceito bem complicado, perguntei por que? e ele começou a me explicar que eu não cuidava mais dele, da casa, da comida, que só estava para meu ativismo, pós doutorado, escritas e pesquisa (aquilo que estava me fazendo “feliz” naquele momento).
Ou vir tudo aquilo foi como tomar uma anestesia que te leva para um outro patamar no universo, e você começa a enxergar tudo embaçado e pensa: FUDEU! tem alguma coisa muito errada comigo, com meu corpo no.mundo, com esse encontro aqui. Ouvi sem responder por alguns minutos e depois de uma lista de coisas que eu não estava fazendo para ele, indaguei: Você quer separar? E, ele me disse; SIM!
Respondi: Então vamos separar! O olhar dele foi de medo ali, ele não esperava que eu concordasse tão prontamente, será? mas eu já tinha isso em mim, tinha alguma coisa muito errada naquele relacionamento, não era escancarado, era profundo, dolorido, tava dificil puxar das entranhas para ver a olho nú…. Mas fui obrigada a colocar na mesa cirurgica e olhar com uma lente maior para não perder as nuances, as insinuações, as construções simbólicas, a estrutura cisheteronormativacolonizada de um relacionamento com um HOMEM estruturalmente dentro da ideia de ter que ser cuidado e servido.
Logo ele que me mostrou ser tão “feminino”, diferente, disconstruido. Logo ele, que me disse tantas vezes que me amava como eu era: porra loka, complicada, feminista!
Dali em diante, fui obrigada a sair do meu lugar de conforto que o mundo insistiu em me convencer do que é estar casada e “protegida” num relacionamento que se promete eternidade, exclusividade, cuidado e AMOR! Coisa mais dificil de sustentar, porque a corda sempre estoura pro lado mais fraco (no caso eu), é que vai desmoronar toda uma construção frustrante de ser amada e acolhida, entendida numa construção de parceria, um contrato de lealdade pra vida!
Mais uma vez se rompeu! E eu desmoronei ali sem saber para onde ir, o que fazer e onde me apoiar! Por que esse medo de estar sozinha, e que se entenda que: eu gosto de estar sozinha, mas não gosto de ser sozinha!
Sou sozinha desde que me entendo por gente, porque não tenho uma familia atenta, próxima, muito menos foi construido nessas relações um lugar para voltar e se apoiar quando as coisas não dão “certo”.
Ontem perguntei pra minha psicóloga, eu com 51 anos de idade, e depois de muita porrada da vida, minha história é trash e tenho consiciência disso, se será que consigo construir um lugar seguro dentro de mim, pra voltar toda vez que eu desmoronar? Ela me disse, não é fácil, mas é possivel! Desconfiei….
Ali caiu várias fichas, tanto medo me habita por esses dias, e eu estava tentando justificar: não tenho familia, sou mulher, fiz 51 anos, revejo minha sexualidade constantemente, defendo os direitos humanos, estou morando em outra cidade, sou complicada, não concordo com o mundo, e assim fui construindo justificativas para poder sentir medo!… não que tudo isso não contribua, porque contribui e muito, mas entender ali de frente a minha psicóloga que é porque não tenho um lugar seguro dentro de mim, não construí, não foi construido… e, esse medo me faz confiar em pessoas que não entendem esse medo de deixar o outro…não existe uma responsabilidade afeitiva porque também não aprendeu a construir isso… foi desestabilizador!
Em que momento pularam essa parte na minha construção como pessoa de ter um lugar seguro para voltar quando tudo dê errado?
Mas voltando para a separação, pedi um tempo pra ele para poder ir embora, porque na verdade sabiamos que eu já ia embora, as coisas não estavam legal pra mim e muitas possibilidade fora dali estavam se abrindo. Por que não esperou para a separação ser em outro tom, fez questão em dar a cartada final? Não entendo esse modo operanti, que se justifica que foi como deu… Não entendendo! Porque são muitos anos, mereciamos um final mais conversado, acolhedor, quem sabe amigos? Quanta ilusão ainda habitam minha cabeça?
Decidi adiantar minha saida da cidade que já não me acolhia como antes, se é que um dia me acolheu, nela sofri muitas coisas, foi lá que minha filha faleceu, que eu fiquei trabalhando em escolas que me exploraram e me deixaram doente, mas foi lá também que cresci, estudei coisas incriveis, conheci mulheres fodásticas, e fiz uma revisão profunda do que eu queria pra minha vida!
Antes da partida, minha irmã Ju Queiroz, parceira de tantos trabalhos incriveis me sugeriu que fizessemos um Ensaio para aquele momento, e eu disse tem que tinha que ter a ver com a MORTE, tô morrendo… por dentro, por fora…
Essa tinha sido a carta do tarot que eu tinha tirado no covil das bruxas na Bela Vista em Sampa junto com minha outra irmã Aline Esha… mas essa é uma outra história…
Então decidimos fazer o Ensaio no final das queimadas no cerrado para comunicar o renascimento, mas as tantas mortes que passamos, nós Marias, mulheres pelo patriarcado, pelos relacionamentos, pela vida que nos insiste em violentar, machucar e depois abandonar…
Veio o Ensaio “Morte e Vida Marias” e alí naquele momento eu morri muitas vezes, o sangue (na tinta vermelha) também foi mega importante porque sangramos o tempo todo e não só estamos falando da menstruação, sangramos as almas, as falas, os encontros, as decisões… sangramos!
A vergonha do que entra e sai da vulva, a vulva que nunca pode ser vista, apreciada, só se for plastificada em clínicas de estética, para satisfazer uma estética masculina patriarcalizada do gozo rápido, quente e seguro.
Foi ali, naquele fazer, naquele momento de rompimento, ruptura com muita coisa que venho estudando, que ali se fez em arte, resustência e potência. Minha corpa gorda mais uma vez ali na performance da vida, da dor e da sobrevivência, de uma mulher exausta, que caminha contra muita coisa, que não se enxerga mais como cis, nem como se enxergava a minutos atrás…
Sera que eu sou uma MULHER?
Ainda recolhendo meus cacos, tentando colar pedaço a pedaço e com a certeza e de que nunca mais serei o mesmo vaso, corpa, vulva, me reconstruo, me olho com cuidado e em luto para entender porque não ví que aquele relacionamento não era o que eu achava que era, eu tinha certeza que eramos um casal feliz.
Mas agora olho e vejo o quanto foi um relacionamento abusivo, centrado nele, e que mais uma vez me levou para traumas prfundos de abandono, dor, rejeição e falta de construção de um lugar seguro dentro de mim.
Agora pensando que é preciso ter um lugar dentro de si para voltar quando se é violentada, invisibilizada, machucada! Estou na construção de um lugar que nunca existiu nem dentro =, nem fora mim.
Essa fotos estão maravilhosassssss♥️♥️
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obrigada 😊
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