ENSAIO JULHO 2020
CERRADO DOURADO




















Não é novidade para ninguém que me segue, conhece meu trabalho e vem acompanhando minhas pesquisas artivistas, que a fotografia faz parte dessa reconstrução, ressignificação do lugar social do meu corpo gordo maior e dos estudos sobre gordofobia que venho desenvolvendo desde 2014, os ensaio fotográficos em conjunto com minha parceirona @juqueirozfotografia tem me ajudado a pensar e levar esse debate para muitos espaços: Qual é o lugar social dos corpos gordes maiores? Existe representatividade? Por que é tão importante esses corpos aparecerem? E além de transformar meu corpo em máquina de guerra contra a patologização do meu corpo, também tem sido uma ressignificação do meu próprio olhar sobre ele, de quanta potência, afecto e revolução existem ali, aqui!

Make off Foto Salomon Morales
A fotografia me acompanha desde o começo dessa transformação de paradigma sobre meu corpo e a partir disso dos outros corpos, a cada ensaio que faço venho rompendo todo um imaginário de crença que meu corpo não deveria aparecer em lugar nenhum, que não é digno de ser mostrado, festejado e enaltecido…. Esse trabalho que estamos realizando tem tido um dos papeis principais no meu trabalho de autoconhecimento e valorização da história que minha corpa conta.
Esse Ensaio CERRADO DOURADO aconteceu para ilustrar minha tese/vida/projeto em livro, desde o começo sabia que as fotografias/ensaios faziam parte da composição da denúncia de minha proposta sobre a violência episteme aos corpos gordes femininos.

Makeoff foto: Salomon Morales
A primeira coisa que conversamos foi que o cerrado e minha história, projeto, livro, vida, e tudo mais que está interligado a Malu Jimenez filósofa gorda tinha muita semelhança com o que acontece no Cerrado, vivo aqui há 12 anos e nunca vi nada parecido, sua força de renascimento é incrível, literalmente a fênix que renasce das cinzas… tatoo que tenho desde meus 25 anos na perna direita …..
O cerrado pra quem não sabe, conhece, é diferente das matas que vemos pelo Brasil afora, ele é retorcido, rompe o preestabelecido, as folhas são grossas, espessas, muitos espinhos, e acontece por aqui apenas 2 estações do ano: as chuvas e as secas. Quando seca morre tudo, literalmente, a cor do cerrado muda, pega fogo, morre e fica sem vida… Dá uma tristeza porque a impressão que dá é que acabou! Não nasce mais nada aí….
Massssssssss……. quando ninguém aguenta mais, no ápice da secura, do calor… vem as chuvas abundantes que começam a reviver tudo aquilo que parecia estar morto, mas que na verdade só estavam esperando um acalanto das águas para renascer… Foi pensando nessa transformação que fizemos o ensaio no meio de uma tarde dourada dentro do cerrado.
Foi dentro do cerrado, literalmente, porque a gente é assim, se joga mesxxxmoooo num entardecer dourado para compor o projeto artístico do meu livro “lute como uma gorda: gordofobia, resistências e ativismos”, pela editora philos.
E mais uma vez me surpreendeu, e dessa vez chamei meu companheiro para fazer fotos makingoff do ensaio, e ter esse registro foi tão importante, porque é um outro olhar sobre nós, sobre mim, o Cerrado e o próprio ensaio que pra gente é se conectar com a terra, o chão, com a força do renascimento que é o cerrado.

Lute como uma gorda é isso: renascimento.
O corpo gordo de uma mulher que caminha nua pelo cerrado, se integra e entrega naquele chão seco, quente, dourado…. Se revigora junto a fortaleza das matas retorcidas queimadas numa fórmula, lógica de sobrevivência, Re Existência desenvolvida a séculos, para não desaparecer por mãos do cistema cisheteronormativa, que nos matam, nos queimam sistematicamente, mas renascemos, brotamos, re e vivemos!
São os homens que nos matam, são os homens e todo o cistema que quer nos calar, queimar, desaparecer, existe um extermínio silencioso dos corpos gordes dentro do saber-poder instituído por conhecimentos heteropatriarcais.

E… toda essa ideia, reverberou nas fotos, nas texturas, nas cores, foi o ensaio que mais me entreguei ali dentro do calor, espinhos e cinzas que o sol baixando nos lambia com carinho, entrei literalmente em êxtase, começamos dançando, cantando, caminhando, e fomos morrendo junto a luz do dia, junto ao sol laranja que baixava e ali naquele momento renasci das cinzas.
Terminei o ensaio toda suja de carvão, picada, machucada pelos espinhos por que o que aconteceu foi entrega mesmo, nossos ensaios é um mergulho pra dentro sem fimmmm…. eu desci tudo no fundo do meu inconsciente, das minhas dores, traumas e medos para depois emergir em extase…. Acho que dá pra sentir isso nas imagens, não dá?
As fotos foram trabalhadas pela artista visual, filósofa Paula Mello, mulher gorda que em suas colagens incriveis compôs um projeto artístico maravilhoso e acompanhou essa ideia da resistência, do renascimento, o livro ficou incrivel.

Porque nossa força vem da (RE) existência e não vamos nos deixar exterminar, aprendemos nesses séculos, observando a natureza e lutando por sobrevivência quais ferramentas usar para não se deixar calar, matar, desaparecer.
Somos corpos desobedientes, subversos e revolucionários.
Somos corpos que escrevem, gritam, falam, ensinam contra toda opressão.
Essa fotos estão maravilhosassssss♥️♥️
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obrigada 😊
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